quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Eclipse Solar

       Começo este texto citando e refletindo um trecho de Djavan que diz assim: "Quem não tem pra quem se dar, o dia é igual a noite". Eu vivi na escuridão de uma noite de lua nova, na maioria do tempo. O máximo que vi do sol foi seu reflexo na lua, que de vez em quando, pra me mostrar que o sol ainda existia, se enchia. Um dia desses, vi, repentinamente, sem nem mais ter expectativas, o sol nascer bem em minha frente depois de uma noite de lua cheia. Meu coração se encheu de alegria, por algum momento. Até a lua tomar conta total da minha manhã.
       Num eclipse já esperado, vi meu dia virar noite, mesmo o sol estando lá. Os medos, os julgamentos, a dor, a confusão... Todos esses sentimentos cobriram meu sol totalmente. Me vejo numa encruzilhada sem saber que rumo tomar. Sei que quero o sol me iluminando, mas não sei como tirar essa escuridão. E pensando nisso, Djavan me diz: "Não existe amor sem medo". Até concordo, mas, hoje, ainda não sei como entender e sobreviver neste eclipse constante, sabendo que posso ter meu sol pleno bem ali em minha frente, sem que não haja sombras de medos e dúvidas sempre me impedindo de enxergar e viver.
       Não sei bem o que sinto, mas me sinto bem, porém muito nervoso em ter em minha frente a oportunidade que sempre sonhei, e não saber se vou conseguir tê-la comigo. Não saber se estou fazendo o certo, se estou fazendo certo, não saber se vai dar certo, ao mesmo tempo que me excita me deixa confuso, ou mais confuso, que eu geralmente sou.
       "...Hoje eu sei não são miragens, noites com sol", nem manhãs sem ele.
Bom dia.

domingo, 7 de outubro de 2012

"Só o amor é luz"

       Aqui estou de novo no escuro, no breu total. O escuro transforma os limites em infinito, rompe a barreira de quem "estou" e aflora o quem "sou". Deixo de ser casca para ser carne, deixo de ser visão e passo a ser calor. A escuridão transforma meu corpo em apenas coração pulsante e pensamentos inquietos, me conecta comigo mesmo e aguça minha percepção do mundo infinito que há em mim.
       O escuro transformou meus medos em conforto, o caos em calmaria, o silencio interno em gritos e choros de alegria. No escuro posso ver o amor, sentir seu toque, seu cheiro, ouvir sua voz... O escuro me ensinou que o mundo dialoga e te ensina muito mais do que você pode enxergar. O escuro me fez ver as coisas que não se vê, ouvir o que não se ouve e sentir o que desde sempre deveria estar em mim e eu não conseguia incorporar.
     Ao ponto em que não podemos enxergar nada, quem somos nós e quem são os outros? Qual a diferença entre o corpo e a alma? Quais as fronteiras intransponíveis? O que é belo? O que é errado?

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Hoje é dia de Guerra, Bebê!

       Jogado no chão como se fosse despejado junto com todo o lixo que está ao meu redor. Feridas ainda abertas insistem em não cicatrizar e a dor da alma supera a dor carnal. Estirado, enrolado em trapos sujos e fétidos, sinto minhas entranhas apodrecerem, como se já houvesse morrido. A morte veio me visitar, não quis receber, mas comi as sementes que me deste. Estou morrendo por dentro.
       É a guerra, meu bem! Ela um dia chega para nós, também. Dessa vez chegou devastando meus sonhos, nosso futuro, meu caminho. Furacões e terremotos me puseram de cabeça para baixo. Me sinto tonto, me sinto fraco, sinto fome, sinto frio, sinto ainda mais medo. Dos meus olhos não saem mais lagrimas, por mais que eu tente, dos seus saem um rio.
       Espero suas mãos leves pra limpar o sangue do meu rosto, em formas de carícia; seus braços castos para me apertar contra seu peito, para que eu consiga ouvir um coração que ainda bate por nós. Me veste uma roupa limpa, cuida de minhas feridas, me ama.
       Tira essa armadura, anjo! A guerra não há de durar, os ventos já estão mais calmos e a terra não treme mais. Deixa o rio seguir seu curso para que as sementes possam germinar. Joga fora essas armas, não há de ter mais mascaras, esquece os planos de fuga e fica pra cuidar do que desde sempre já era seu.

sábado, 14 de julho de 2012

A Criança

       O amor é como uma criança pintona. Sabe aquela criança que chega e bagunça tudo, mas você se apaixona por ela? Assim é o amor. É aquele filho daquela prima, que um dia ela pede para você tomar conta. É só ele chegar que já quer brincar com tudo, mexe em tudo, se pendura nas janelas, risca suas paredes, rasga suas revistas, espalha brinquedo pela casa toda... Enfim, causa o verdadeiro furdunço na sua casa, que até então era bem pacata.
       Ai sua prima pede para você ficar com ele mais um dia! E de novo é aquela bagunça. Só que você já começa a se acostumar, até acha engraçado sua casa estar desse jeito, até se diverte... Até que o telefone toca. É sua prima vindo buscar o menino pintão. E ela faz isso. E você se enxerga novamente sozinho, com sua vida pacata e com a casa toda bagunçada, tendo que dar conta da bagunça e se virar pra arrumar tudo de novo. Até que você consegue arrumar tudo, mas você não consegue limpar os desenhos na parede. E isso vai fazer você lembrar de tudo que se passou nesses dias que a criança esteve na sua casa.
       É assim que o amor se apresenta para mim. Alguém vem, "deixa" o amor para eu tomar conta, e no auge da minha bagunça e alegria esse alguém vem e leva esse sentimento de dentro de mim. Só me restando ter de arrumar tudo de novo, apesar de sempre ter uma parte da parede riscada, sempre me mostrando que o amor passou aqui e deixou sua marca no meu coração.

"Deixa as crianças em volta de mim"
(Jorge Vercillo)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Lua

       Sonhei com a Lua. A maior lua que poderia ser vista da terra. Era como se ela quisesse entrar na terra para me trazer algumas confissões latentes lá, para que eu pudesse ver tudo que mandei de perto. Eu achava a sua presença por de trás dos prédios a coisa mais deslumbrante que meus olhos ousariam ver por toda a minha vida.
       Senti meu coração sofrer com sua aproximação como as marés. Meus fluidos e minha cabeça sentiam a diferença na gravidade. Enquanto ela me devolvia pensamentos e confissões eu aproveitava para mandar mais, num tráfego de pensamentos muito ligeiro, antes que isso tudo acabasse. Era como se ela só estivesse alí para só por minha causa.
       E foi só para mim. Acordei com essa sensação de mudança de gravidade, acordei com a sensação de realidade. A lua veio até mim esta noite, cheia, cheia de luz iluminar meus pensamentos e me tirar da minha órbita de dúvidas. Um novo ciclo se inicia!

sábado, 30 de junho de 2012

Vômito

Vomitei como uma forma de desintoxicação. Tirei de mim as coisas mal digeridas que ficaram acumuladas em mim, sem que tivesse notado. Botei todas as minhas drogas para fora do meu sangue para fora. Limpei minha alma e lavei minhas mãos desse mal estar.
De frente para o espelho vi um rosto cansado, porém aliviado. Lavei a boca de tudo que havia saído de podre. Senti minhas pernas fraquejarem, minhas mãos tremerem, e meus olhos caídos choravam de dor. Vi a cara de preocupação de quem me rodeava. Foi um sofrimento em vão.
Mas era necessário me desintoxicar dos amores efêmeros e ódios duradouros. Purificar meu corpo das coisas que não estavam me fazendo bem.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Poema

"Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime."


Trecho de "Tabacaria" de Fernando Pessoa

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Energia

       Vejo muita energia sendo gasta com perguntas sem sentido e respostas aparentes. Vejo muito desperdício de sentimentos, de vontades, de sangue, de suor... Muita energia está sendo gasta para se mostrarem ainda mais fúteis, para terem atenção, para tentarem ser amados ou odiados. Apenas vejo muito desperdício para serem ou mostrarem o que não são. Se vestem das armaduras do egoismo, da vulgaridade para construir seu forte de solidão.
       Sinto minhas energias se esvaindo no tempo e espaço, por coisas que não me agradam, por arrependimentos, por meus defeitos... Assisto a esse espetáculo me corroendo por dentro por estar com as minhas mãos atadas. Vejo sofrimentos alheios, sonhos se dissolvendo pela dureza da realidade, corações partindo em pedaços e eu amarrado nesta cadeira, assistindo a esse filme de horrores. Tento fechar os olhos, mas os gritos que ouço não me deixam esquecer o que se passa aqui na minha frente. É impossível sair ileso disso tudo.
       Informações chocam entre si. Confusões tentam se conter em uma só mente, mas algo se generalizou e contaminou todos por perto. Ninguém entende como isso foi se passar. Não consigo reconhecer mais um rosto, todos estão inteiramente desfigurados por conta das energias que se acumularam e se dissiparam por nós!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Aqui estou. Nú, pelado, nuelo... Completamente despido. Sem armadura, sem casca, sem bolha, sem casulo. Nada! Sou apenas um corpo no meio da rua, inteiramente vulnerável. Rodeado de julgamentos, palavras mudas e olhares que gritam.
Vejo pessoas rindo, pessoas desviando o olhar, pessoas que querem ajudar mas não podem. Não podem porque o pudor não deixa, o medo os afasta. Pessoas olham só por curiosidade. E eu continuo nú. Completamente vulnerável a qualquer coisa. Uma pedra, um vento, um abraço, uma chuva, uma dor, um amor... Fiquei entregue ao mundo, à rua. E fiquei lá.
Palavras me rodearam, palavras que não me fizeram vestir ou sentir vergonha. Fiquei um vulnerável inerte. Sem medo nem coragem; sem amor nem dor; sem razão ou sentimento. Eu, hoje, sou um corpo nú extremamente vulnerável.
Vander Lee - Alma Nua
Ó Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizestes
E que a fria luz da razão 
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
 Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorando a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima
Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele 
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta

http://www.vagalume.com.br/vander-lee/alma-nua.html#ixzz1wz3DZhRQ

domingo, 3 de junho de 2012

Árvore

       Aqui, através da unica brecha que minha armadura me permitia enxergar, vi uma árvore.
       Porém, percebi que esta árvore estava sendo podada. Então passei a observá-la com mais frequência. A cada dia, uma pessoa diferente podava um galho, arrancava uma folha, ou um galho inteiro. Mas enfim, todo dia ela era podada por pessoas diferentes.
       Esses dias senti dor. Uma dor bem intensa, e percebi que, com a cegueira do meu escudo, o que eu via era meu reflexo, e esta arvore podada era minha vida. Vi, quase que claramente, tentarem arrancar um galho muito importante de mim. Tentaram cortar, puxaram, tentaram arrancar no grito. Em vão! Percebi que este galho estava bem protegido por outros galhos, meio tímidos, mas que dá sinais de um crescimento forte e persistente, a fim de evitar que outros galhos sejam cortados, ou arrancados: os galhos da ousadia e da coragem. Acho que estes galhos poderão substituir meu escudo do medo (muito fraco por sinal). Assim, EU posso seguir meu crescimento natural, ocupando todos os espaços que eu posso, só podando o que EU julgar que não me serve mais.
       Não encare isso como afronta ou rebeldia. Apenas to tentando conhecer o que eu sou, não o quê querem que eu seja. Não serei mais uma árvore podada.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Eu confesso

       Me peguei conversando com a lua. Uma conversa tão sincera e tranquila. Uma conversa de consciência tranquila, de coração confortado, apesar de apertado. Uma conversa de amigo, mesmo que ela não me responda eu sei que minhas confissões estarão seguras lá!
       Contei dos meus amores, das minhas duvidas, minhas poucas angustias, enfim, tive um papo sincero. Daqueles que você não deixa nada sobrando. Falei das coisas digeridas e das ainda entaladas na garganta. Contei do que aprendi, com quem aprendi... Com quem eu me amarrei ou desamarrei, quais os meus planos, quais minhas desistências, quais os meus cansaços, meus obstaculos. Expliquei porque fiz o que fiz e o que não fiz...
       Refleti sobre minhas fraquezas, meus medos, meu futuro, meu presente e o passado. Amarrei todos os tempos em um só. Reinventei minha estrada, me modelei, troquei minha casca. Falei de saudades, no plural mesmo. E me senti num meio termo, num meio do nada, apenas confortado pela luz da minha amiga que sorria para mim.
       Confessei meus pecados, me perdoei, absorvi cargas, criei pensamentos e teorias, confirmei algumas e derrubei outras. Passeei nas estrelas, dei minhas voltas no mundo e depois voltei a ser o que eu aprendi a ser!

"Eu escrevo e te conto o que eu vi
e me mostro de lá pra você
guarde um sonho bom pra mim"

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Cara!

Vi o meu rosto hoje. Não pelo espelho, mas pelo olhar de outra pessoa. Vi um menino, que não sabe a idade que tem, não sabe o potencial que tem e não sabe da beleza que ele tem. Vi um menino brincalhão! Brincando de esconde esconde consigo mesmo, usando seus obstáculos como um escudo. E olhando bem a fundo vi que este menino brincalhão escondia outro menino. Este mais tímido, não tão brincalhão, bastante amedrontado.

Pelo que vi, este menino tímido se veste de menino brincalhão, mas mesmo assim não consegue deixar seu medo de lado. Mesmo sabendo que não ultrapassar os obstáculos significa renunciar uma liberdade que ele tanto almeja. Vi um olhar desconfiado, vi um adulto sofrido, um homem sério algemado com algemas de cristal. Um homem ignorante que ainda não descobriu que ele pode quebrar esta algema a qualquer momento, e seguir seu rumo para a vida. Vi um homem cansado, com a cara pálida, meio sofrida, meio tristonha. Eu vi que não me veem como eu sou realmente, me veem como o menino brincalhão, fingindo ser seguro de sí, mas que não deixou de se esconder atras de seus obstáculos, de seus medos e de suas duvidas.