sábado, 30 de junho de 2012

Vômito

Vomitei como uma forma de desintoxicação. Tirei de mim as coisas mal digeridas que ficaram acumuladas em mim, sem que tivesse notado. Botei todas as minhas drogas para fora do meu sangue para fora. Limpei minha alma e lavei minhas mãos desse mal estar.
De frente para o espelho vi um rosto cansado, porém aliviado. Lavei a boca de tudo que havia saído de podre. Senti minhas pernas fraquejarem, minhas mãos tremerem, e meus olhos caídos choravam de dor. Vi a cara de preocupação de quem me rodeava. Foi um sofrimento em vão.
Mas era necessário me desintoxicar dos amores efêmeros e ódios duradouros. Purificar meu corpo das coisas que não estavam me fazendo bem.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Poema

"Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime."


Trecho de "Tabacaria" de Fernando Pessoa

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Energia

       Vejo muita energia sendo gasta com perguntas sem sentido e respostas aparentes. Vejo muito desperdício de sentimentos, de vontades, de sangue, de suor... Muita energia está sendo gasta para se mostrarem ainda mais fúteis, para terem atenção, para tentarem ser amados ou odiados. Apenas vejo muito desperdício para serem ou mostrarem o que não são. Se vestem das armaduras do egoismo, da vulgaridade para construir seu forte de solidão.
       Sinto minhas energias se esvaindo no tempo e espaço, por coisas que não me agradam, por arrependimentos, por meus defeitos... Assisto a esse espetáculo me corroendo por dentro por estar com as minhas mãos atadas. Vejo sofrimentos alheios, sonhos se dissolvendo pela dureza da realidade, corações partindo em pedaços e eu amarrado nesta cadeira, assistindo a esse filme de horrores. Tento fechar os olhos, mas os gritos que ouço não me deixam esquecer o que se passa aqui na minha frente. É impossível sair ileso disso tudo.
       Informações chocam entre si. Confusões tentam se conter em uma só mente, mas algo se generalizou e contaminou todos por perto. Ninguém entende como isso foi se passar. Não consigo reconhecer mais um rosto, todos estão inteiramente desfigurados por conta das energias que se acumularam e se dissiparam por nós!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Aqui estou. Nú, pelado, nuelo... Completamente despido. Sem armadura, sem casca, sem bolha, sem casulo. Nada! Sou apenas um corpo no meio da rua, inteiramente vulnerável. Rodeado de julgamentos, palavras mudas e olhares que gritam.
Vejo pessoas rindo, pessoas desviando o olhar, pessoas que querem ajudar mas não podem. Não podem porque o pudor não deixa, o medo os afasta. Pessoas olham só por curiosidade. E eu continuo nú. Completamente vulnerável a qualquer coisa. Uma pedra, um vento, um abraço, uma chuva, uma dor, um amor... Fiquei entregue ao mundo, à rua. E fiquei lá.
Palavras me rodearam, palavras que não me fizeram vestir ou sentir vergonha. Fiquei um vulnerável inerte. Sem medo nem coragem; sem amor nem dor; sem razão ou sentimento. Eu, hoje, sou um corpo nú extremamente vulnerável.
Vander Lee - Alma Nua
Ó Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizestes
E que a fria luz da razão 
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
 Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorando a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima
Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele 
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta

http://www.vagalume.com.br/vander-lee/alma-nua.html#ixzz1wz3DZhRQ

domingo, 3 de junho de 2012

Árvore

       Aqui, através da unica brecha que minha armadura me permitia enxergar, vi uma árvore.
       Porém, percebi que esta árvore estava sendo podada. Então passei a observá-la com mais frequência. A cada dia, uma pessoa diferente podava um galho, arrancava uma folha, ou um galho inteiro. Mas enfim, todo dia ela era podada por pessoas diferentes.
       Esses dias senti dor. Uma dor bem intensa, e percebi que, com a cegueira do meu escudo, o que eu via era meu reflexo, e esta arvore podada era minha vida. Vi, quase que claramente, tentarem arrancar um galho muito importante de mim. Tentaram cortar, puxaram, tentaram arrancar no grito. Em vão! Percebi que este galho estava bem protegido por outros galhos, meio tímidos, mas que dá sinais de um crescimento forte e persistente, a fim de evitar que outros galhos sejam cortados, ou arrancados: os galhos da ousadia e da coragem. Acho que estes galhos poderão substituir meu escudo do medo (muito fraco por sinal). Assim, EU posso seguir meu crescimento natural, ocupando todos os espaços que eu posso, só podando o que EU julgar que não me serve mais.
       Não encare isso como afronta ou rebeldia. Apenas to tentando conhecer o que eu sou, não o quê querem que eu seja. Não serei mais uma árvore podada.