terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Do Amor - Paulinho Moska

Não falo do amor romântico, 
aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento. 
Relações de dependência e submissão, 
paixões tristes. 
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo, 
e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida,
explicada, entendida, julgada. 
Pensam que o amor já estava pronto, 
formatado, inteiro, antes de ser experimentado. 
Mas é exatamente o oposto, para mim,
que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, 
inventado e modificado. 
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita. 
O amor é um móbile. 
Como fotografá-lo? 
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo? 
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta? 
O amor é o desconhecido. 
Mesmo depois de uma vida inteira de amores, 
o amor será sempre o desconhecido,
a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação. 
O amor quer ser interferido, 
quer ser violado, 
quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto, 
decidimos caminhar pela estrada reta. 
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos, 
e nós preferimos o leito de um rio, 
com início, meio e fim. 
Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico. 
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia. 
Não é no meu sangue que ele ferve. 
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha e 
nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu 
como se fossem novas estrelas recém-nascidas. 
O amor brilha. 
Como uma aurora colorida e misteriosa,
como um crepúsculo inundado de beleza e despedida, 
o amor grita seu silêncio e nos dá sua música. 
Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor, 
se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço. 
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo, 
me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega. 
Morrer de amor é a substância de que a Vida é feita. 
Ou melhor, só se Vive no amor. 
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.


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